MIL-OSI United Nations: Secretary-General’s Press Encounter with President José Ramos-Horta of Timor-Leste [scroll down for all-English]

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Source: United Nations secretary general

Senhor Presidente,

José Ramos-Horta, um defensor da paz. Aliás, é justamente um Prémio Nobel da Paz e é uma honra para mim estar aqui hoje ao seu lado.

Jamais esquecerei as muitas horas em que trabalhámos juntos nos tempos da resistência e antes e depois do referendo. Os telefonemas a altas horas da noite, de madrugada, as longas e profundas conversas. As viagens de Vossa Excelência pelo mundo, recusando-se a desistir e defendendo a causa do povo timorense inspiraram líderes em toda a parte. 

E é-me particularmente grato ter tido a utilidade de dar um contributo e apoio aos incansáveis esforços desenvolvidos por Vossa Excelência. 

Considero-o um amigo o que muito me honra.  

Senhoras e Senhores, 

O lema de Timor-Leste é, e cito, “Unidade, Ação, Progresso”. 

Este lema é um verdadeiro reflexo do vosso percurso enquanto país e uma inspiração para o caminho a seguir. 

Em primeiro lugar, unidade. 

O aniversário da Consulta Popular apela à unidade na celebração do vosso passado coletivo, na homenagem aos que superaram as diferenças convergindo na resistência e na homenagem aos que sonharam com a independência, mas já não estão entre nós. 

A restauração da independência não foi o fim. 

Foi um novo começo que exigiu unidade e determinação para superar os desafios e obstáculos com que a nação timorense se deparava no momento da edificação de um do Estado e de um novo país.  

Hoje, menos de uma geração depois, estou aqui como testemunha de uma nação que se soube afirmar e que prevaleceu.  

Uma nação em paz e em harmonia com os seus vizinhos. 

Uma democracia consolidada, assente no respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. 

Em segundo lugar, ação. 

Nos 25 anos que decorreram desde a consulta popular, Timor-Leste foi tomando medidas consistentes e movendo montanhas para criar uma sociedade que responda às necessidades e aspirações do povo timorense. 

O vosso país pode não ter um território extenso, mas tem sido capaz de enfrentar alguns dos maiores desafios do nosso tempo. 

Timor-Leste tem feito progressos impressionantes na construção de uma sociedade democrática e na promoção de um desenvolvimento centrado nas pessoas, expandindo a educação de qualidade, especialmente nas zonas rurais, investindo deliberadamente para alcançar o acesso universal à eletricidade, combatendo a insegurança alimentar, e hoje o Senhor Presidente acaba de nos afirmar que esta é uma prioridade essencial do novo governo, a desigualdade de género, o desemprego jovem e melhorando o acesso a cuidados de saúde. 

Peço-vos que também demonstrem igual ambição no que respeita à ação climática. 

Pois estão na linha da frente da crise climática que ameaça a própria sobrevivência de muitos Estados insulares e costeiros. 

Em todo o Pacífico, o caos climático está a atingir aqueles que menos fizeram para o causar. 

E este é o momento de agir contra as alterações climáticas e de reforçar as medidas de proteção do povo timorense face à intensificação dos desastres climáticos. 

Mas Timor-Leste não pode estar só neste esforço. 

A comunidade internacional tem a obrigação de vos apoiar – nomeadamente através de um ambicioso resultado na COP29 deste ano, em matéria de apoios financeiros, e de duplicação do financiamento para a adaptação para pelo menos 40 mil milhões de dólares até 2025, em cada ano. 

Precisamos urgentemente de um estímulo financeiro aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que aumente os recursos destinados a esse mesmo desenvolvimento em países como Timor-Leste. 

Em terceiro lugar, progresso. 

A primeira vez que visitei Timor-Leste foi em 2000, enquanto primeiro-ministro de Portugal. 

E desde então, o país demonstrou empenho em atingir novos e mais ambiciosos patamares de desenvolvimento e a melhorar progressivamente a vida do povo timorense. 

Hoje, Timor-Leste é um membro ativo e de pleno direito da comunidade internacional. 

Alcançou importantes progressos em matéria de resiliência económica e aderiu à Organização Mundial do Comércio no início deste ano. 

E trabalha para se tornar um membro de pleno direito da ASEAN – com o total apoio das Nações Unidas. 

A determinação em contribuir para progressos que beneficiem a comunidade mundial no sue todo constitui um timbre da atitude timorense. 

Ainda agora tive a ocasião de verificar o forte empenho do Senhor Presidente da República em relação à procura de uma solução para a tragédia em Myanmar. 

Mas o progresso não é apenas uma questão de ambição pois depende e muito de instituições e estruturas internacionais. 

Em setembro, na Cimeira do Futuro, os países serão chamados a forjar um novo consenso global sobre a forma como cooperamos e enfrentamos os nossos maiores desafios.  

As propostas que estão em cima da mesa tornarão mais eficaz e inclusiva a tomada de decisões globais, assegurando mais espaço para os países em desenvolvimento. 

Lanço o desafio para que a voz de Timor-Leste se faça ouvir na Cimeira pois o mundo tem muito a aprender com Timor-Leste e com a sua experiência. 

Senhor Presidente e caros amigos, 

As Nações Unidas e o povo timorense estiveram lado a lado no momento em que o país assumia nas suas próprias mãos a construção do seu destino. 

As Nações Unidas continuarão a apoiar as aspirações do povo timorense na caminhada que tem pela frente. 

Desejo os maiores sucessos ao povo de Timor-Leste e muito obrigado. 

Question: Em 2000, aliás antes em 99, o Senhor ajudou provar ao mundo que não era impossível para que houvesse um referendo em Timor-Leste. A pergunta que eu lhe faço é a seguinte: o que pensa quando lhe dizem que é impossível resolver as guerras da Ucrânia e do Médio Oriente? 
 
Secretary-General:  A experiência de Timor-Leste foi possível num mundo em que as divisões geopolíticas não eram como são hoje. Efetivamente, nessa altura, quando os Estados Unidos decidiram que era importante uma intervenção em Timor-Leste, o Conselho de Segurança reuniu e votou por unanimidade. A Austrália liderou a intervenção e, tal como foi dito, a Indonésia aceitou.
Duvido sinceramente que uma situação similar hoje tivesse o mesmo resultado. Com as divisões geopolíticas que existem, duvido que o Conselho de Segurança votasse unanimemente e duvido que se criassem as condições de aceitação para que uma intervenção desse tipo,  em qualquer outro ponto do mundo, possa ter lugar.
Estamos infelizmente num mundo em que há uma impunidade quase total. Ninguém tem hoje respeito nem por ninguém nem por nada. Não há respeito pela Carta das Nações Unidas, não há respeito pela lei internacional e também não há respeito pelas potências, porque as potências, porque as potências se neutralizam umas às outras e, portanto, nós vemos do Sudão ao Médio Oriente, passando pela República Democrática do Congo e por Myanmar, nós vemos que as guerras continuam e que a comunidade internacional se tem mostrado impotente para as resolver. É preciso compreender que reformas importantes das nossas instituições multilaterais, para as adaptar ao mundo de hoje, em vez de manter aquilo que foi constituído a seguir à Segunda Guerra Mundial, desde o Conselho de Segurança das Nações Unidas, às negociações de Bretton Woods, há reformas que são absolutamente essenciais para que seja possível ao mundo que voltar a ter capacidade para impor a Carta e para impor a lei.
 
Question: Welcome Secretary-General and congratulations to the East Timor People who celebrate and commemorate the 25th anniversary of the Popular Consultation. In October in Indonesia [inaudible].  Regarding the new Indonesian President, for 20 years Mr. Prabowo was the one who led the Indonesian army in Timor-Leste, how will the President confront the situation? Will you seek for the concept of compensation or responsibility from the new President of Indonesia?
 
Secretary-General:  As circunstâncias do tempo eram as circunstâncias do tempo. Eu presto homenagem ao Presidente Habibie que aceitou a intervenção que foi feita, mas quero dizer-lhe que hoje, tanto quanto sei, a Indonésia e Timor-Leste são dois parceiros extraordinariamente amigos e que, eu era primeiro-ministro de Portugal na altura, e na altura, combatíamos muito em relação à posição indonésia sobre Timor-Leste. Tanto quanto sei, as relações de Portugal com a Indonésia são também absolutamente excelentes e, portanto, deixemos de pensar no passado e pensemos no futuro que é um futuro de paz e de harmonia nesta região e essa paz e harmonia têm muito a ver com as relações entre Timor-Leste e a Indonésia.

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[English translation]

Mister President,  José Ramos-Horta, a defender of peace. In fact, he is a Nobel Peace Prize winner, and it is an honour for me to be here with him today.
 
I will never forget the many hours we worked together during the resistance times and before and after the referendum. The late-night, early-morning phone calls, the long, deep conversations. Seeing you travelling around the world, refusing to give up, defending the cause of the Timorese people was an inspiration for leaders everywhere. 
 
I am particularly grateful to have been able to contribute to and support your tireless efforts.
 
And I am honoured to call you a friend.
 
Ladies and Gentlemen,
 
Timor-Leste’s motto is “Unity, Action, Progress.”
 
That motto is a true reflection of your journey as a country, and inspiration for the road ahead. 
 
First, unity.
 
The anniversary of the Popular Consultation is an opportunity to come together: 
 
to celebrate your collective past; to honour those who overcame differences to unite in the resistance; and to commemorate those who dreamed of independence but are no longer with us.
 
Independence was not the end.
 
It was a new beginning that required unity and determination to overcome the challenges and obstacles facing the Timorese nation as it built a new state and a new country. 
 
Now, less than a generation later, I stand here as witness to a nation that prevailed.
 
A nation at peace and in harmony with its neighbours.
 
A consolidated democracy based on respect for human rights and fundamental freedoms.
 
Second, action.
 
In the 25 years since the referendum, Timor-Leste has consistently taken action, moving mountains to create a society that responds to the needs and aspirations of the Timorese people.
 
Your country may be small in size, but you are taking on some of the biggest challenges of our time.
 
Timor-Leste has made impressive strides in building a democratic society and enhancing people-centred development, expanding quality education, especially in rural areas, achieving universal electricity access, addressing food insecurity, and today the President has just told us that this is a key priority for the new government, gender inequality, youth unemployment and improving access to health care.
 
I urge you to show the same ambition on climate action. 
 
You are on the frontlines of the climate crisis that is threatening the very survival of small islands and low-lying coastal states.
 
Across the Pacific, climate chaos is battering down the doors of those who have done the least to cause it.
 
Now is the time to act against climate change and to strengthen measures to protect the Timorese people from the intensification of climate disasters.
 
But Timor-Leste cannot act alone. 
 
The international community has an obligation to support you – including through an ambitious finance outcome at COP29 this year, and by doubling adaptation finance to at least $40 billion a year by 2025.
 
We urgently need an SDG Stimulus that increases the resources allocated to this same development in countries like Timor-Leste.
 
Third, progress.
 
The first time I visited Timor-Leste was in 2000 as Prime Minister of Portugal.
 
Since then, this country has strived to climb higher and improve the lives of the Timorese people. 
 
Today, Timor-Leste is a full and active member of the global family.
 
Making good progress on economic resilience and joining the World Trade Organization earlier this year.
 
And is working to become a full member of ASEAN – with the full support of the United Nations.
 
Resolute in making progress for our global community — this is the Timorese way.
 
Just now, I had the opportunity to see the President of the Republic’s strong commitment to finding a solution to the tragedy in Myanmar.
 
But progress is not only a matter of ambition. It relies on global institutions and frameworks for support.
 
In September, at the Summit of the Future, countries aim to forge a new global consensus on how we cooperate and address our greatest challenges.
 
Proposals on the table will make global decision-making more effective and inclusive, with more space for developing countries. 
 
I urge you to make your voices heard at the Summit. The world has a lot to learn from Timor-Leste and your experience.
 
Dear President, dear friends,
 
The United Nations and the Timorese people stood side by side as this country took its first steps towards owning and shaping its destiny.
 
The United Nations will continue to support the aspirations of the Timorese people on the journey ahead.
 
I wish the best success for the people of Timor-Leste.
 
Thank you.
 
Question: In 2000, actually, before that, in 1999, you helped prove to the world that it wasn’t impossible to have a referendum in Timor-Leste. My question to you is this: what do you think when you are told that it is impossible to resolve the wars in Ukraine and the Middle East?
 
Secretary-General: The Timor-Leste experience was possible in a world where geopolitical divisions were not as they are today. In fact, at that time, when the United States decided it was important to intervene in Timor-Leste, the Security Council met and voted unanimously. Australia led the intervention and, as has been said, Indonesia accepted.

I sincerely doubt that a similar situation today would have the same result. With the geopolitical divisions that exist, I doubt that the Security Council would vote unanimously, and I doubt that the conditions of acceptance would be created for such an intervention to take place anywhere else in the world.

Unfortunately, we are in a world where there is almost total impunity. No one today has any respect for anyone or anything. There is no respect for the United Nations Charter, there is no respect for International Law and there is no respect for the superpowers either, because the superpowers neutralize each other and, therefore, we see from Sudan to the Middle East, through the Democratic Republic of Congo and Myanmar, that wars continue, and that the international community has shown itself powerless to resolve them. We need to understand that major reforms of our multilateral institutions, to adapt them to today’s world, instead of maintaining what was set up after the Second World War, from the United Nations Security Council to the Bretton Woods negotiations, are reforms that are absolutely essential to enable the world to regain the capacity to impose the Charter and to impose the law.

Question: Welcome Secretary-General and congratulations to the Timor-Leste people who celebrate and commemorate the 25th anniversary of the Popular Consultation. In October in Indonesia [inaudible].

Regarding the new Indonesian President, for 20 years Mr. Prabowo was the one who led the Indonesian army in Timor-Leste, how will the President confront the situation? Will you seek for the concept of compensation or responsibility from the new President of Indonesia?

Secretary-General: The circumstances of the time were the circumstances of the time. I pay tribute to [Indonesian President BJ] Habibie who accepted the intervention that was made, but I want to say that today, as far as I know, Indonesia and Timor-Leste are two extraordinarily friendly partners and that, I was Prime Minister of Portugal at the time, and at the time, we fought a lot in relation to the Indonesian position on Timor-Leste. As far as I know, Portugal’s relations with Indonesia are also absolutely excellent, so let’s stop thinking about the past and think about the future, which is a future of peace and harmony in this region, and that peace and harmony have a lot to do with relations between Timor-Leste and Indonesia.
 

MIL OSI United Nations News